Aos poucos, a presença de pessoas pretas na moda, no audiovisual e na publicidade passa a ocupar espaços centrais, e a série “Preto Tá na Moda”, lançada recentemente, é um ótimo exemplo desse movimento. Mais do que falar de tendências e estilo, a série oferece um mergulho nas trajetórias, inspirações e criações de designers de moda negros do Brasil e do continente africano.
A série ainda traz um jogo de sentido no próprio nome, ao mesmo tempo em que faz referência direta a pessoas pretas no universo da moda, provoca ao afirmar que pessoas pretas estão em evidência.
Identidade, estilo e liberdade para além dos estereótipos
Cada episódio de Preto Tá na Moda apresenta um designer com origens e olhares diferentes sobre o vestir. Tem quem crie com referências africanas, quem valorize o streetwear brasileiro, e quem explore alfaiataria ou técnicas manuais. O que conecta todas essas histórias é uma estética preta diversa, cheia de camadas, viva e ligada às vivências de seus criadores.
Essa pluralidade também aparece em produções como Harlem, série que acompanha quatro amigas negras vivendo em Nova York. Cada uma tem um estilo próprio, uma forma diferente de se expressar, desejos e histórias bem distintos. E é exatamente isso que torna tudo tão potente: mostrar que não existe uma única forma de ser, se vestir ou existir sendo uma pessoa preta. Assim como na série brasileira, Harlem reforça que preto na moda é sobre liberdade, identidade e potência criativa, longe de estereótipos.
Além disso, moda vai muito além do que a gente veste. Ela fala sobre identidade, autoestima, memória e pertencimento. A nova série de romance da Netflix, Para Sempre, acompanha Justin e Keisha, dois jovens que se reencontram no final do ensino médio e vivem um relacionamento intenso. Mesmo com o foco na história de amor, a série dá destaque aos detalhes da cultura negra, especialmente nos cuidados com o cabelo e estilo das personagens. Ao longo dos episódios, vemos Keisha e suas amigas indo ao salão, fazendo tranças e experimentando diferentes penteados, mostrando como esses momentos são importantes para expressar identidade e fortalecer laços.
Preto na Moda também é sobre mudar quem cria a narrativa
Mais do que colocar pessoas pretas nas campanhas, é importante pensar em como isso é feito. Não adianta ter um rosto negro se a narrativa reforça estereótipos ou apaga identidades. Portanto, uma boa campanha começa na escuta. Ou seja, envolver pessoas negras do planejamento à criação é essencial.
Um exemplo disso é a Escola de Marketing Antirracista, criada pela Unilever. A empresa percebeu que não basta colocar pessoas negras nas campanhas, também é preciso mudar a mentalidade de quem cria, aprova e executa essas ações. Por isso, em parceria com a consultoria Indique Uma Preta e a Oliver Press, a Unilever formou 350 profissionais de marketing. Eles foram capacitados em semiótica antirracista, letramento racial e estratégias para públicos e negócios afrocentrados. Assim, o objetivo foi provocar uma mudança estrutural no marketing. Dessa forma, as ações passaram a se conectar mais com a realidade da maioria da população brasileira, que é preta e parda. Além disso, a marca revisa suas campanhas com curadoria racial e inclui mais fornecedores e criativos negros. Isso mostra que preto na moda é também abrir caminhos dentro do mercado.
Deixe um comentário