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Clipe ou Comercial? O Híbrido da Nova Geração

Clipe da cantora Ana Castela patrocinado pela marca Avon

Nos últimos anos, os videoclipes deixaram de ser apenas expressão artística e, consequentemente, passaram a virar vitrines estratégicas de marcas, estilo de vida e tendências. Além disso, a fusão entre publicidade e audiovisual musical criou um formato híbrido: o clipe é campanha publicitária e o comercial, narrativa artística.

Essa mistura, por sua vez, reflete a mudança nos hábitos de consumo de mídia. A Geração Z e os Millennials, conectados e atentos ao valor das marcas, buscam conteúdos que entretenham, emocionem e reflitam seus valores. Dessa forma, clipes publicitários se tornam ferramentas poderosas de branding emocional, storytelling e inserção cultural.

Billie Eilish e Gucci: Moda, conceito e música em perfeita sintonia

Um dos exemplos mais emblemáticos dessa nova linguagem audiovisual é justamente a parceria entre Billie Eilish e a Gucci. De fato, conhecida por sua estética sombria, experimental e autêntica, Billie foi escolhida pela marca italiana para estrelar a campanha do perfume Gucci Bloom e, posteriormente, colaborar em projetos que desafiam os limites entre arte e propaganda.

O vídeo I Am Not My Responsibility, lançado em meio às campanhas da Gucci voltadas à diversidade e identidade, funciona como um manifesto pessoal da artista — por um lado, uma expressão autêntica; por outro, uma ação de marca sofisticada que reforça valores compartilhados: autenticidade, empoderamento e ruptura com padrões convencionais.

Além disso, o figurino de Billie em clipes como “Lost Cause” e “Therefore I Am” incorpora peças da grife de forma sutil e visualmente marcante. Dessa forma, essa inserção orgânica, por sua vez, aproxima o público da marca sem soar forçada, criando uma identificação visual que vai muito além do simples product placement.

The Weeknd: Uma narrativa de luxo e mistério com Mercedes-Benz, Givenchy e mais

The Weeknd domina a arte de transformar clipes em experiências publicitárias sofisticadas. Por exemplo, em “Blinding Lights”, ele dirige um Mercedes-AMG GT, símbolo de status, velocidade e estilo. Assim, a parceria com a Mercedes virou uma campanha estendida e um comercial disfarçado de arte.

Além disso, em “Save Your Tears” e “Take My Breath”, ele mantém a estética luxuosa. Nesse sentido, figurinos e visuais contam com marcas como Givenchy, reforçando o luxo dos clipes.

Portanto, os vídeos são exemplos claros de união entre branding, narrativa e música.

Publicidade camuflada ou arte patrocinada? O novo dilema criativo

A fronteira entre publicidade e clipe musical se dissolve à medida que marcas buscam formas mais criativas e imersivas de atingir seu público. Em vez de anúncios tradicionais, vemos hoje estratégias de branded content e co-criação de conteúdo com artistas, onde o posicionamento da marca é sutil, mas eficaz.

Esse formato atende a uma demanda crescente por conteúdos não intrusivos, que gerem valor simbólico, visual e emocional. Para estudantes de publicidade como Mariana Souza, isso representa uma nova referência estética e estratégica a ser estudada e aplicada. Já para profissionais como Ricardo Almeida, diretor de arte, esses clipes híbridos são fontes ricas de inspiração visual, direção criativa e inovação narrativa.

Para Carolina Menezes, coordenadora de comunicação interna, a lógica desses conteúdos pode ser adaptada ao universo corporativo: criar campanhas internas que pareçam mini-documentários ou videoclipes institucionais pode gerar mais engajamento do que peças convencionais.

Marcas de luxo e artistas: um jogo de sinergias

Grandes marcas de luxo como Balmain, Dior, Fendi e Saint Laurent têm investido fortemente em parcerias com músicos que compartilham valores de inovação, sofisticação e atitude. Esses artistas, por sua vez, ganham em posicionamento de imagem, reforçando sua presença no mundo da moda e do lifestyle.

A presença de marcas em videoclipes não se limita à exibição de produtos. Muitas vezes, a própria direção de arte, ambientação e paleta de cores são construídas em colaboração com as equipes de marketing das marcas parceiras, tornando os clipes verdadeiras campanhas de lifestyle, com narrativa, emoção e estética visual cuidadosamente planejadas.

Conclusão: quando clipe e comercial falam a mesma língua

O surgimento do “comercial disfarçado de clipe” é uma resposta à demanda por conteúdos mais inteligentes, imersivos e emocionalmente conectados. Ao unir música, moda, publicidade e arte visual, essas produções se transformam em experiências culturais completas — que vendem, comunicam, emocionam e se tornam parte do imaginário coletivo.

Para as marcas, é uma forma poderosa de atingir o público jovem de maneira orgânica e sofisticada. Para os artistas, é uma oportunidade de elevar seu trabalho a um novo nível de relevância estética e comercial. E para os profissionais da publicidade, um laboratório criativo em constante reinvenção — onde a arte e a estratégia se tornam uma coisa só.

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