Nos últimos anos, o marketing de influência tem se consolidado como uma das ferramentas mais poderosas da publicidade contemporânea. No entanto, junto ao seu impacto positivo em engajamento e conversões, também emergem questionamentos éticos relevantes — sobretudo quando o assunto envolve saúde.
“Comecei a ser impactada pelos vídeos, até brinco falando que fui influenciada pelo meu próprio trabalho já que sou publicitária.. […] Eu não parava de vomitar, sentia muita dor no estômago e passava o dia enjoada. Fui oito vezes ao pronto-socorro, para tomar medicação na veia e nada adiantava. Eu voltava para casa e continuava vomitando ” — Gabriela, de 29 anos, relatou sua experiência com o uso de Ozempic para a BBC News Brasil .
Esse relato é apenas um dos muitos exemplos que mostram como as redes sociais passaram a promover, de forma equivocada, medicamentos como Ozempic e Monjaro. Esses remédios, cuja formulação inclui substâncias que provocam saciedade e reduzem o apetite, vêm sendo vendidos como soluções rápidas para emagrecimento — desvirtuando totalmente seu propósito original.
Quando o medicamento vira solução estética
Mais do que uma simples tendência, o fenômeno revela um esforço constante para sustentar um padrão estético estabelecido socialmente. Que ocorre entre criadores de conteúdo e suas audiências — um acordo tácito, a fim de que as partes compreendem e concordam com certos comportamentos sem a necessidade de uma declaração formal.
No ambiente digital, influenciadores vêm utilizando essa narrativa de qualquer jeito como parte de suas estratégias de conteúdo, vendendo a ideia ilusória de um corpo “ideal” alcançado por meio de uma medicação — muitas vezes sem respaldo médico ou científico. O resultado? Geralmente, um verdadeiro desserviço à informação, com impactos diretos na saúde física e emocional dos seguidores.
Mas o que está por trás desse fenômeno? Quais os riscos reais à saúde? E, mais importante: qual o papel de estudantes e profissionais da comunicação nesse cenário?
Sobre o mercado
Quantas vezes você já se sentiu tentado a comprar algo após ver um influenciador recomendando?
O marketing de influência é uma estratégia que utiliza criadores de conteúdo com forte presença digital para promover produtos ou serviços. Em 2024, esse mercado ultrapassou a marca de US$ 24 bilhões, segundo o Influencer Marketing Hub. Em geral, a lógica é simples: confiamos mais em quem seguimos diariamente do que em marcas tradicionais.
De medicamento a tendência estética: o hype do Ozempic e Monjaro
Ozempic (semaglutida) e Monjaro (tirzepatida) foram desenvolvidos com o objetivo de controlar a glicemia em pacientes com diabetes tipo 2. No entanto, passaram a ser utilizados — e promovidos — como aceleradores de emagrecimento, especialmente por celebridades e influenciadores nas redes sociais.
Desde 2023, os “resultados milagrosos” viralizaram em vídeos e posts, levando muitas pessoas a buscarem esses medicamentos por conta própria. Em muitos casos, influenciadores incentivaram, ainda que de forma indireta, a automedicação com frases como ‘converse com seu médico depois’ ou ‘só estou contando a minha experiência’.
Desinformação e riscos reais
Um estudo publicado na JAMA (Journal of the American Medical Association) revelou que 67% dos vídeos sobre medicamentos populares no TikTok continham informações imprecisas ou não verificadas. Aliás, a automedicação foi estimulada de maneira sutil — com frases como “converse com seu médico depois” ou “eu só contei minha experiência, não estou indicando nada”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também alertou, em nota oficial, sobre os riscos do uso indiscriminado de semaglutida por pessoas sem diagnóstico de diabetes, incluindo desidratação severa, pancreatite e distúrbios gástricos.
A diretoria Colegiada da Anvisa aprovou, na quarta-feira (16/4), uma medida de controle rigoroso na prescrição e na dispensação desses medicamentos agonistas. Com essa decisão, a receita médica deve ser feita em duas vias e a venda só poderá acontecer mediante a retenção dela nas farmácias ou drogarias, assim como acontece na compra de antibióticos.
Por fim, um ponto que é importante em termos de comunicação, até que ponto vale para as marcas associarem sua imagem a de influenciadores que descredibilizam a reputação dela?
E o que a publicidade tem a ver com isso?
0,85O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) proíbe anúncios de medicamentos de prescrição ao público leigo. Ainda assim, muitos influenciadores burlam essa regra com o uso de relatos pessoais, transformando depoimentos em propaganda disfarçada.
Nomes como Evelyn Regly, Jojo Todynho, Zé Felipe, Luiza Possi e Wesley Safadão já relataram publicamente o uso dessas medicações, contribuindo para que exista a ilusão de um emagrecimento rápido e fácil.

Em suma, há casos como o da influenciadora Andressa Castorino, que após rápida perda de peso lançou um desafio de emagrecimento, levantando suspeitas sobre a veracidade do “método” promovido. Em suma, há casos como o da influenciadora Andressa Castorino, que após rápida perda de peso lançou um desafio de emagrecimento, levantando suspeitas sobre a veracidade do “método” promovido.

E o papel das marcas?
É fundamental que empresas, influenciadores e agências discutam e estabeleçam limites éticos claros. Pois, a busca por engajamento e resultados não pode ultrapassar os cuidados com a saúde e a responsabilidade social.
O uso de medicamentos não é tendência: é assunto sério. O marketing de influência pode transformar comportamentos. Por essa razão, a banalização do uso de medicamentos como Ozempic e Monjaro mostra o quanto a busca pela estética pode adoecer quando se apoia em discursos desinformados.
A boa publicidade não é apenas aquela que encanta. É também a que protege, educa e respeita.
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